Poder
Autoridades ajudam a abafar episódio da advogada que a máfia infiltrou no governo
Procurador-geral da República e ministro da Justiça não fazem o que se espera deles: investigar por que a história não é devidamente esclarecida
Rodrigo Rangel
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
tranquilizou o ministro Dias Toffoli sobre o conteúdo do depoimento
(Sérgio Dutti & Andre Dusek/AE)
Há duas semanas, VEJA revelou que os ministros Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência da República, e Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal, agiram em sintonia com a máfia que desviou mais de 1
bilhão de reais dos cofres públicos. Em depoimentos prestados ao
Ministério Público e à Polícia Federal, a advogada Christiane Araújo de
Oliveira contou que, durante anos, manteve relações estreitas com ambos e
usou essa intimidade para conseguir levar à frente ações de interesse
da quadrilha para a qual trabalhava. Apesar da gravidade das acusações,
registradas há mais de um ano em um arquivo de vídeo e outro de áudio,
na ocasião nenhum procedimento de investigação formal foi aberto para
apurar a denúncia. Pior que isso: uma parte do material -- o áudio
original no qual a advogada narra aos policiais os detalhes de seus
encontros com as autoridades do governo e as atividades paralelas
derivadas desses encontros -- pode ter sido propositalmente escondida
para evitar constrangimentos ao governo.No áudio até agora desaparecido, Christiane conta detalhes, muitos deles sórdidos, a respeito do período em que conseguiu se infiltrar no governo a pedido da máfia. Entre muitas histórias impressionantes, a advogada confirma que, em 2009, entregou ao então advogado-geral da União, Dias Toffoli, material gravado clandestinamente que incriminava opositores do governo -- versão confirmada em depoimento prestado recentemente à Polícia Federal por Durval Barbosa, o chefe da quadrilha, que fez um acordo de delação premiada com a Justiça. Dias Toffoli nega que tenha recebido qualquer documento das mãos da advogada. Em conversas com colegas do STF, o ministro relatou que está sendo vítima de calúnia e que teria recebido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a garantia de que não há nada nos depoimentos que o comprometa. Não é um comportamento apropriado para quem deveria zelar pelo interesse público: melhor seria se o procurador se empenhasse em descobrir por que as revelações da advogada ficaram escondidas por tanto tempo.
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