Eu, um homem do povo, digo à presidente de elite: A SENHORA ESTÁ ERRADA! Os pobres não são os culpados pela falta de ética!
Considero este um dos posts mais importantes que terei publicado aqui em cinco anos. Vocês entenderão por quê.
Eu sei o que
alguns bobalhões dizem a meu respeito (sim, também há gente inteligente
que não gosta de mim; posso suportar; não sou um homem carente): “Esse
Reinaldo é muito agressivo”. Não sou, não! Sou um senhor até bastante
educado. Eu fico um tantinho irritado porque eu acredito, de
verdade!, em alguns valores que “eles” usam apenas como elemento de
propaganda. Em parte, isso explica por que fui de esquerda
durante um tempo, na adolescência e primeira juventude: dava mais relevo
ao discurso generoso do esquerdismo — a igualdade — e entendia que a
liberdade era um bem derivado daquele outro, que me parecia essencial.
Feitas algumas sinapses, constatei o que hoje me parece óbvio: a
liberdade é o nosso mais importante e inegociável bem.
Mas eu
continuo, sim, empenhado, a meu modo e dentro dos meus limites, na luta
pela igualdade; vale dizer: em ter um país em que todos sejam, na
prática, iguais perante a lei. Para que se realize esse propósito, é
preciso que o dinheiro do povo seja aplicado com decência. Para que se
seja eficiente nessa aplicação, é preciso mudar a forma como se elegem
os nossos representantes. As esquerdas são essencialmente mentirosas
quando se dizem partidárias do povo ou suas legítimas representantes.
Qualquer
leitor que tenha se interessado pela história dessa gente sabe muito
bem: os que falaram, ao longo do tempo, como líderes das massas sempre
nutriram um profundo desprezo pelos pobres; tomam-nos como um bando de
alimárias morais, que precisam ser civilizadas. Não há um só pensador
relevante de esquerda — nem para ser a exceção que contraria a regra —
que não tenha partido do princípio de que o “povo” é composto de bestas
que podem ser conduzidas pra cá ou pra lá.
Entendam: é
claro que deixados os homens entregues à sua própria natureza, cada um e
todos eles dedicados apenas à defesa dos seus interesses, assistiremos à
guerra de todos contra todos, ao caos. Ao longo do tempo, foram se
criando instituições para mediar os conflitos. Sem elas, morremos todos
no fim da história. É por isso que este “polemista”, como me definiu uma
repórter da revista “TPM”, dá tanta importância às leis
democraticamente instituídas e mete a botina no traseiro dos que
especulam contra elas.
A política é
a nossa única chance de civilização. Não há outra. Isso que chamo
“civilização” compreende o acesso aos bens da cultura, àquilo que de
melhor, humanos, conseguimos produzir. A luta pela democratização dessas
conquistas é uma tarefa coletiva, um imperativo moral. A educação é o
principal instrumento para compartilhar esse patrimônio. Ponto
parágrafo. Leiam agora esta fala da presidente Dilma. Volto em seguida:
“Um país
pode ser medido pela capacidade de atender às mães e as crianças. Se
tivermos nossas crianças bem-educadas, com apoio, acolhimento e carinho,
certamente teremos uma sociedade bem mais virtuosa, tanto do ponto de
vista ético como no direito de cada um dos brasileiros a ter as mesmas
oportunidades”.
Ela
participava de uma solenidade, no Palácio do Planalto, para anunciar
investimentos em educação. Está quase tudo errado nessa fala. É claro
que as crianças e as mães precisam ser bem-atendidas; é claro que o
esforço para eliminar a pobreza deve ser permanente, MAS É PURO
PRECONCEITO, DOS MAIS DETESTÁVEIS E DOS MAIS REACIONÁRIOS, a afirmação
de que a educação torna as pessoas mais éticas.
Dilma já
teve de demitir cinco ministros, quatro por problemas éticos. A nenhum
deles faltou educação esmerada; a nenhum deles faltaram as melhores
condições para progredir e se desenvolver; a nenhum deles faltou o
acesso aos bens universais da cultura; a nenhum deles faltaram as
condições objetivas para uma vida digna, reta e feliz.
Corrupção,
desmandos, malversação do dinheiro público, relações de compadrio… Nada
disso é protagonizado pelo povo ignorante e deseducado. Ao contrário! O
povo brasileiro — e, convenham, assim são os povos mundo afora — tem
muito mais vergonha na cara do que suas elites. Com mais informação, com
mais referências, com mais oportunidades, é bem possível que manejasse
melhor o seu padrão ético, não votando em canalhas e vigaristas, por
exemplo. Mas seu senso de moral é até mais severo do que o de boa parte
das pessoas com educação formal, tendentes ao relativismo.
Se os pobres
brasileiros se comportassem como se comporta a elite política — na qual
o PT é hoje força hegemônica —, seria impossível botar o nariz fora da
porta. Uma minoria extrema dos pobres escolhe o caminho do crime — e tal
escolha nada tem a ver com a pobreza. Não vou aqui abrir espaço para o
“coitadismo” tão em voga no Brasil, mas eu conheço “o povo” de perto —
Dilma não conhece. Ela vem daquilo que os petistas chamam “elite”. Tanto
é assim que tentou instalar no país uma ditadura de esquerda para pôr a
população no caminho reto; por isso queria ser a vanguarda das massas,
que, naquela concepção, não chegariam sozinhas a lugar nenhum…
Não é a
primeira vez que entro em contato com esse pensamento. A maioria dos
“amigos do povo” que se distribuem na academia, no jornalismo e no
debate público — UMA GENTE MUITO GENEROSA — parte do princípio estúpido,
mentiroso, preconceituoso, de que o tal “povo” é constituído de zumbis à
espera de uma alma, que lhe será concedida pela educação e pela
cultura.
É falso!
Falso e cruel! Os pobres também são capazes de fazer escolhas morais e
escolhas éticas. Aliás, ao longo do dia, dos dias, da vida, têm muito
mais oportunidades de optar entre o certo e o errado do que os que
nasceram em famílias abastadas. Estas costumam proteger seus rebentos
por um bom tempo das situações-limite.
Essa
concepção vocalizada por Dilma Rousseff não é irrelevante e tem
conseqüências perversas para os pobres. Ela se revela, por exemplo, no
descaso de sucessivos governos com a segurança pública. O país é um dos
campeões mundiais em homicídios por 100 mil habitantes. Entende-se que o
crime é uma das expressões da falta de escola, da falta de saneamento,
da falta de moradia. Não! A esmagadora maioria dos pobres segue as leis.
O crime é expressão da falta de uma política decente de segurança
pública, que proteja os pobres dos maus pobres e dos maus ricos. Cadeia
não substitui escola, mas escola não substitui cadeia, como quer certo
onguismo picareta.
Precisamos
de uma escola boa e de educação universalizada para que os brasileiros
estudem matemática, ciências, língua portuguesa, história; para que
possam desenvolver seu potencial criativo; para que dediquem seus
melhores talentos ao pensamento e à investigação científica. O povo tem
moral, presidente! O povo tem ética! Ele precisa de escola, sim, mas não
para isso. A escola não é a nova VAR-Palmares da moral popular.
Infelizmente, presidente, são os bem-educados da política que atuam hoje como fatores da deseducação do povo.
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