quarta-feira, 2 de março de 2011

Abrindo a Sua Janela

A sua janela está aberta ou fechada para o mundo?

Normalmente dizemos que uma pessoa está olhando pela janela. Mas meu vizinho, Eli Apalelo, fica literalmente sentado na sua janela, com o corpo inclinado para fora, vigiando nossa calçada, empoleirado sobre seu joelho direito. Toda vez que passo pelo seu apartamento, seja no calor do verão ou no frio do inverno, Eli está de plantão.
Parece que Eli conhece a maioria das pessoas que passam pela nossa rua a caminho do Mercado Central de Jerusalém. Ele até pergunta, preocupado: “Como está seu cunhado?”, “Como é que foi a cirurgia da sua esposa?”, “Não tenho visto você ultimamente, está tudo bem?”.
Sei pouco acerca de Eli Apalelo. Sei que nasceu na nossa rua na década de 1930. Sei que ele foi um herói da Guerra de Independência de Israel. Sei que ele tem um problema médico que o deixa debilitado, embora eu não saiba qual; sempre que lhe pergunto sobre sua saúde, ele insiste: “Minha saúde não tem nenhuma importância! O que importa é como você e as crianças estão”. E sei também que Eli ama as pessoas e as pessoas o amam.
Quando as crianças da vizinhança brincam do lado de fora, Eli fica atento, olhando de sua janela. Ele até manda os meninos de volta para casa para pegar um casaco nos dias frios! Às meninas ele pergunta: quando será seu aniversário? E dos irmãos e irmãs mais velhos ele procura saber como as crianças estão na escola.
Eli entendeu que, definitivamente, dar traz muito mais alegria do que receber. Sinto que ele simplesmente nasceu com essa eterna verdade colada no seu coração.
Quando já estava no final da vida, as ambulâncias iam e vinham de tempos em tempos para levar Eli ao hospital e trazê-lo de volta. Sempre que ele estava em casa, nos levávamos para ele comida de Shabat. Certa vez ele se desculpou e devolveu a comida sem nem mesmo tocá-la. Explicou que já não podia digerir nada além de chá e biscoitos tipo cream cracker.
A última vez que vi Eli foi um dia antes da sua morte. Ele parecia tão doente que a cor da sua face combinava com seu casaco cinza. Perguntei como estava se sentindo. Ele olhou para trás de mim e acenou para algumas pessoas que estavam passando, absorto por algo que seria uma das suas últimas respirações profundas do ar desta cidade que ele tanto amava; depois fitou o espaço acima da minha cabeça com um sorriso sincero. E disse: “Como estou me sentindo? Graças a D’us!”.
Quando passei pela janela de Eli mais tarde neste mesmo dia, ela estava fechada. Ninguém da nossa rua nunca mais o viu. Mas até hoje, cada vez que passo pela sua janela – bem trancada por causa da poeira e coberta com cortinas – eu lembro dele e sinto sua falta.

A JANELA DO CORAÇÃO

Alguns anos atrás, encontrei uma mulher chamada Rebetzin Esther que, como meu vizinho Eli, vive dentro da janela. Mas a janela que ela abre não é de vidro ou de metal. Sua janela é a janela do seu coração, que ela abre para aqueles que estão ao seu redor.
A Rebetzin Esther cresceu com duas crianças cujos pais eram mentalmente instáveis por causa das suas experiências no Holocausto. Ela recorda que não gostava da maneira como estas crianças, que nunca aprenderam modos de comportamento na mesa, enfiavam a comida na boca. Uma vez Esther perguntou à sua mãe se ela poderia servir a comida em dois turnos para não ter que comer com as crianças adotadas.
A mãe de Esther a encarou com um olhar severo, que cinqüenta anos depois ainda influencia a Rebetzin: “Esther, nesta família não vivemos apenas para nós!”.
A mensagem da sua mãe a acompanhou através de toda sua vida. Quando a Rebetzin Esther era uma jovem mãe de muitas criancinhas, ela e o marido deviam fazer esforços extraordinários para abrir sua casa para os convidados de Shabat. Agora que ela é avó, significa dar aulas a milhares de mulheres sobre o significado de ser uma mulher judia e aconselhar incontáveis mulheres que procuram sua sábia compreensão sobre o casamento e a educação dos filhos.
Uma vez fui para a casa da Rebetzin Esther para escutar sua opinião sobre um artigo que estava escrevendo. No final da nossa conversa a Rebetzin começou a andar em direção à próxima pessoa que estava esperando para falar com ela. Mas depois de dar alguns passos ela se voltou olhando para mim e apontou seu dedo para cima, declarando: “Escrever é uma missão que D’us nos dá para ajudar o mundo!”.
Se você tivesse me perguntado antes desta conversa porque escrevo, eu teria respondido que é porque amo escrever. A afirmação da Rebetzin Esther, simples assim, me fez ver a minha ocupação sob um ângulo diferente. Ela trocou meu foco, que passou de mim para vocês, de mim para aqueles que estão ao meu redor.
Eli Apalelo e a Rebetzin Esther me ensinaram que cada um de nós tem uma janela. E uma das decisões mais importantes que devemos tomar é se nossa janela vai estar aberta ou fechada. Será que vamos nos fechar dentro das nossas próprias vidas, atender às nossas próprias necessidades e aos nossos desejos? Ou será que vamos decidir, como disse a mãe da Rebetzin, que na nossa família não vivemos apenas para nós?
Será que fingiremos não estar nem vendo o vizinho idoso andando na rua, ou será que vamos parar de correr um pouco e nos deter para conversar com ele? Vamos fazer a lista dos 20 motivos que fazem com que estejamos ocupados demais esta semana, ou encontraremos tempo para visitar aquele membro da comunidade que está no hospital?

E será que vamos ser mais um da incontável multidão que passeia pela vida queixando-se da escuridão, ou seremos uma daquelas pessoas especiais que toma um pouco do seu tempo e investe seus esforços para acender uma vela?

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