domingo, 13 de março de 2011

Juízes britânicos e sua inquisição ateísta


Lord Muby, Owen e Eunice Johns e Juiz Beatson. Fanatismo ateísta jogando a liberdade no lixo na Grã Bretanha.
No dia 28.02, foi dado mais um aperto no parafuso da inquisição secular contra cristãos. Num julgamento grotesco, dois juízes da Alta Corte mantiveram o afastamento de um casal do sistema de foster homes[1] e simplesmente porque o casal tem a visão cristã tradicional acerca do homossexualismo.
As implicações desse julgamento são absolutamente aterradoras, em muitos níveis. O casal em questão, Eunice e Owen Johns, é um casal honrado e tradicional, cuja qualidade do cuidado dispensado a mais ou menos vinte crianças não está em dúvida. Numa época em que se estima haver uma carência de dez mil pessoas capacitadas para atuar como famílias adotivas [foster carers] [2], seria de se esperar que o casal Johns fosse tratado como ouro em pó. Que fique claro: eles nunca fizeram nada para tentar impedir que homossexuais atuassem como famílias adotivas. O seu crime é de crer que é errado estimular o estilo de vida homossexual para crianças sob os seus cuidados, uma vez que, na visão deles, sexo fora do casamento é errado.
 
E foi exatamente por essa visão — que até há pouco tempo era a posição moral normativa — que os juízes [Lord] Munby e Beatson concordaram que eles deveriam ser proibidos de criar e cuidar de qualquer outra criança. A proibição tem como base o simples fato de que o casal tem pontos de vista com os quais os juízes não concordam.
 
Tal decisão é, em primeiro lugar, antiliberal e intolerante. Em segundo lugar, em sua pouca profundidade e viés secular, é ridícula. Pois o que de fato esses juízes disseram é que não há lugar na lei britânica para as crenças cristãs — que a Grã-Bretanha é um país “majoritariamente secular”, multicultural, onde as leis do reino “não incluem o cristianismo”.
 
Nas palavras do ex-Bispo [anglicano] de Rochester, Michael Nazir-Ali, isto é um absurdo, pois:
 
“[...] O monarca assume o trono sob o juramento de defender as leis de Deus, enquanto as leis do Parlamento são aprovadas com o consentimento dos Bispos da Igreja Anglicana [Lords Spiritual], e o Discurso da Rainha [diante do Parlamento] termina com uma benção do Todo Poderoso. Dizer que este é um país secular é logicamente um erro”.
 
“Mas o que realmente me preocupa nessa quantidade de sentenças é que elas não deixam espaço para a consciência dos fies de qualquer tipo. Isto excluirá cristãos, judeus-ortodoxos e muçulmanos de vários espaços da vida pública, incluindo a adoção e cuidado de crianças”.
 
Os juízes foram além ao decretar que o direito dos homossexuais à igualdade tem precedência sobre o direto dos cristãos em manifestar suas crenças e valores morais. Com base em quê eles decidiram isso se não nos seus próprios preconceitos? Mas então, esse é o efeito inescapável da lei de direitos humanos. Com base na ficção contraditória de que os “direitos” que ela protege são “universais”, a lei de direitos humanos demonstra que esses direitos são, na verdade, conflitantes, e, portanto, absolutamente dependentes das visões subjetivas dos juízes chamados a arbitrá-las.
 
Num outro trecho da sentença os juízes declararam:
 
“Postamo-nos como juízes que servem a uma comunidade multicultural. Fizemos o juramento de “fazer o certo para todo o tipo de pessoa segundo as leis e costumes do reino, sem temor ou favor, sem afeição nem malevolência”.
 
Todavia, sua sentença faz grande mal aos cristãos. Ela incorpora a crença de que valores seculares são neutros, enquanto os valores cristãos não o são. Usados desta maneira, os valores seculares— com mais precisão, os valores da militância ateísta — são um ataque direto ao cristianismo e à moralidade bíblica ocidental.
 
A heresia pela qual o casal Johns recebeu punição foi a recusa de submeter as crianças sob seus cuidados à propaganda de uma ideologia tendenciosa. E — esfregue seus olhos novamente — as crianças em questão têm menos de dez anos de idade. Toda a questão é, vista de qualquer ângulo, inapropriada para crianças tão pequenas. Portanto, o que realmente ocorreu foi a punição de um casal que tentava proteger a inocência infantil das crianças sob seus cuidados.
 
Nessas circunstâncias, termos tais como “totalitário” ou “orwelliano” não são nenhum exagero. Durante o processo judicial, houve até mesmo a insinuação de que o casal Johns deveria ser submetido a um programa de reeducação:
 
“No decorrer do processo, a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos sugeriu que o casal deveria frequentar um programa de reeducação. A Sra. Johns pergunta: ‘Por que deveríamos ser reeducados? Porque acreditamos que o homossexualismo não é adequado? ’
 
‘Dissemos que sentaríamos e conversaríamos com as crianças para descobrir de onde vem isso tudo. Os juízes disseram: ‘Não, vocês terão de dizer a elas que não há nada de errado em ser homossexual, uma vez que há muitas crianças confusas a respeito de sua sexualidade’. Pensamos: Sim, mas aos oitos anos de idade?”
 
Como resultado dessa decisão judicial, crianças vulneráveis sofrerão. A liberdade morreu mais uma vez. Pessoas estão sendo perseguidas por que têm idéias que não mais são permitidas. Fiéis estão sendo tratados como heréticos. A inquisição ateísta está em plena atividade e a sociedade liberal ocidental dá mais um passo rumo ao despenhadeiro cultural — desta vez empurrada pelo poder judiciário inglês.
 
Tradução: Henrique Dmyterko
 

Publicado originalmente na Spectator.co.uk/melaniephillips em 01/03/2011    


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