domingo, 6 de março de 2011

Uma Casa ou um Lar?

Uma Casa ou um Lar?


Por Jonathan Sacks – Rabino Chefe da Inglaterra
Ontem foi publicada a notícia [Inglaterra] de que os preços das casas podem subir ainda mais, até dez vezes a renda anual. Acho isso escandaloso. Os casais jovens hoje em dia têm de hipotecar suas vidas para conseguir comprar uma casa. Há pouco tempo ajudei a celebrar o centenário do Subúrbio Hampstead Garden, um projeto da Dama Henrietta Barnet para criar moradia social em uma das áreas mais simpáticas de Londres. As casas foram projetadas para todos os níveis de renda, incluindo chalés acessíveis a famílias pobres, então morando em favelas na cidade. Hoje aqueles chalés são quase inacessíveis para um casal vivendo com dois salários, especialmente se um dos dois é professor/a e o outro enfermeiro/a. 



Então, estamos em melhor situação?



Foi há 12 anos que ouvi dizer pela primeira vez que havia um problema. O então Secretário de Estado para o Meio Ambiente, um cristão altamente engajado, convidou o Arcebispo de Canterbury George Carey, o falecido Cardeal Hume e eu para um jantar. Ele nos disse em desespero que havia necessidade de mais 400.000 unidades de moradia no sudoeste da Inglaterra, porque o casamento estava em colapso, havia menos famílias e mais pessoas estavam morando sós. E aquilo também tinha a ver com o mercado. Qual é o significado de palavras como lealdade e constância numa cultura consumista? Costumávamos comprar objetos esperando que durassem. Agora com freqüência os compramos e jogamos fora poucos anos depois em favor de um modelo mais novo. E isso também pode ser aplicado àquilo que costumávamos chamar de casamentos.



A Torá tem uma palavra para isso. Chama-se idolatria. Nos tempos antigos as pessoas adoravam os deuses do sol e da chuva, esperando que lhes trouxessem uma boa colheita. Hoje em dia às vezes idolatramos o shopping center e os anúncios imobiliários, espetando que nos tragam felicidade. O que as pessoas esqueceram, tanto antes como agora, foi que estas forças, sejam da natureza ou do mercado, são cegas. Achamos que o resultado seria a fartura. Em vez disso conseguimos uma estranha doença, na qual quanto mais temos mais infelizes nos tornamos.



Oscar Wilde definia um cínico como aquele que sabe o preço de tudo e o valor de nada. Estamos em perigo de nos tornar uma era cínica, sabendo o preço de uma casa, mas esquecendo o valor de um lar. Se idolatrarmos o mercado, ele pode nos transformar em escravos. Faço uma súplica: vamos tornar as habitações novamente acessíveis aos jovens casais. Vamos colocar as pessoas em primeiro lugar. Não fomos feitos para servir à economia. A economia foi feita para servir a nós.

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