segunda-feira, 7 de março de 2011

Imprensa brasileira é pautada por Bruna Surfistinha

 Não é preciso nenhuma grande conspiração globalista para pautar os jornais brasileiros. A tarefa é tão descomplicada que até Bruna Surfistinha, a ex-acompanhante que virou escritora, pode facilmente dar conta do recado. Basta uma simples combinação entre dinheiro público de leis de incentivo e uma assessoria de imprensa bem conectada com as redações dos portais e diários brasileiros. O resultado é patético e revelador: certos órgãos de imprensa, e não são poucos, publicam simplesmente qualquer coisa que aparece. Ou como explicar tanto barulho por coisa nenhuma?
 
Há quase um ano só se fala nisto: no filme realizado com dinheiro público sobre a vida de Bruna Surfistinha. Agora, que a data de estreia do filme se aproxima, o massacre midiático perdeu qualquer parâmetro e as manchetes dos portais de internet estão recheadas de importantes “informações” a respeito do evento cultural de proporções épicas.
 
 
No Uol, sabemos como foi a pré-estreia do filme no Rio: http://celebridades.uol.com.br/album/pre_estreia_surfistinha_rj_album.jhtm?abrefoto=22.
 
No Terra, ficamos sabendo que o papel de Bruna é o “mais difícil da carreira (?) de Deborah Secco”: http://terratv.terra.com.br/Noticias/Celebridades/4936-347752/Bruna-me-permitiu-mostrar-uma-atriz-nunca-vista-diz-Deborah.htm.
 
 
No Globo.com, somos informados que um jogador de futebol reserva em seu clube fez uma ponta no filme: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2011/02/dentinho-faz-ponta-em-filme-e-ganha-elogios-de-bruna-surfistinha.html.
 
Nada disso, entretanto, está escondido nos inúteis suplementos culturais dos jornais e dos portais na Internet, ou nas seções reservadas às vicissitudes das celebridades. Estamos falando de manchetes, de destaques “à altura” do fenômeno Bruna.
 
O filme, obviamente, foi pago com dinheiro público: foram mais de 3 milhões de reais (http://sif.ancine.gov.br/projetosaudiovisuais/ConsultaProjetosAudiovisuais.do?method=detalharProjeto&numSalic=070091).
 
Persiste aquela dúvida da motivação de alguma empresa em patrocinar um filme que tenta transformar uma ex-profissional do sexo em modelo de comportamento e ídolo popular. Os empresários querem “retorno para a marca” ao associar seus nomes ao de Bruna? Pois bem, aqui estão algumas dessas marcas: http://www.brunasurfistinhaofilme.com/. Destaque óbvio para prefeituras e órgãos públicos de fomento à atividade industrial.
 
Fico imaginando a cabeça de um pai de família, comerciante, décadas de trabalho duro, precisando de um empréstimo de banco público que não sai nunca para pagar suas obrigações trabalhistas, por exemplo, ao ver o sucesso da empreitada de Bruna. A diferença de um país de verdade para um amontoado de gente como o Brasil talvez seja que, no primeiro caso, uma pessoa pode mudar de vida e transformar-se através de um longo processo de autoconhecimento, austeridade e aprendizado pessoal – no segundo caso, ela simplesmente dorme fazendo coisa errada e acorda sendo endeusada como ícone de comportamento, destilando regra, oprimindo as “pessoas comuns” com seu novo status de celebridade, envolvida em mil negócios, mil “projetos”.
 
A garota saiu, definitivamente, das ruas, e ganhou as capas dos jornais. Acho que dava menos prejuízo onde estava, cuidando da própria vida sem querer “influenciar” a dos outros.

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